sábado, 3 de março de 2012

'Não existe briga, apenas uma divergência'

"Continuo apoiando o Tuca, se assim ele quiser", afirmou José Antônio

ANGRA DOS REIS
Na última sessão do legislativo, os presentes no plenário e telespectadores da TV Câmara puderam presenciar o enfrentamento de dois poderes. De um lado, o presidente da câmara, vereador José Antônio (PCdoB), defendendo a autoridade da Câmara dos Vereadores. Do outro, o prefeito Tuca Jordão (PMDB) que foi até a Casa do Povo sem a prévia notificação ao presidente da Casa, acompanhado de amigos, familiares e secretários de governo, com o objetivo de usar a tribuna para explicar a população sobre o seu afastamento, por motivos de saúde, e sobre seu retorno ao governo municipal.
Entretanto, o angrense que por diversas vezes viu e ouviu o presidente da Casa afirmar o seu apoio incondicional a Tuca Jordão, e que por outras inúmeras vezes presenciou o prefeito chamar o vereador José Antônio de “meu amigo Zé”, estranhou a atitude de ambas as partes, quando algumas farpas foram trocadas publicamente.
Em seu pronunciamento, o prefeito afirmou que não estava entendendo a posição do presidente, e mencionou que ele poderia estar sentindo ciúme. “Estou acima disso tudo. Não sei se é ciúme de A de B ou de C. Precisamos conversar, porque parece que você não faz mais parte da base do governo”, afirmou o prefeito na tribuna.
Porém, em entrevista exclusiva ao A VOZ DA CIDADE, o presidente da Câmara dos Vereadores, José Antônio, explicou o motivo desse embate, e reafirmou que estava apenas preservando a instituição. “Eu não me enquadro em ciúmes de A, B ou C. Já passei dessa idade do ciúmes. Até porque, eu sei do lugar que eu ocupo, sei da minha fração de importância política no município, embora não seja tão significativa assim, mas não me causa sentimento de ciúmes. O que houve ali, e talvez muita gente não tenha entendido, foi a preservação da instituição Câmara dos Vereadores. A gente não pode confundir amizade no dia a dia, com as instituições. A Câmara dos Vereadores tem que ser preservada. A sua autoridade tem que ser preservada. O que houve ali, foi a preservação da autoridade do presidente da câmara e da instituição”, explicou José Antônio.
De acordo com o presidente da Casa, houve um enfrentamento de poderes quando o prefeito entrou com seus amigos no plenário, e também, quando foi até a Casa sem um aviso prévio. “Eu soube que o prefeito ia à câmara pela imprensa. Ele falou com os vereadores, mas foi em uma conversa informal. Estamos tratando de dois poderes independentes, embora ao longo dos três anos de um relacionamento muito próximo e estreito com a precfeitura e de apoio ao governo. Ele levou os amigos, botou na câmara para aplaudir ou vaiar, e isso é um enfrentamento. É um esgarçamento da relação”, afirmou José Antônio, completando que vereador não é funcionário da prefeitura. “O vereador não é funcionário da prefeitura. Não são secretários, gerentes... nada. Eles são vereadores, e cada um representa uma fração real de poder na câmara. Representa sua população. Não está ali para funcionar como secretário ou funcionário da prefeitura, mas sim como vereador, e tem que exercer o seu mandato com altivez e com independência, para que ele seja respeitado pelos seus eleitores. Porque se não, a câmara perde sua função. Perde sua identidade”, disse.
José Antônio ainda explicou que não existe briga entre ele e o prefeito, apenas uma divergência. E que o compromisso em apoiar o governo Tuca continua. “Às vezes, no relacionamento de instituições, quando há divergências, parece que está brigando. E não é o caso. Não existe briga. Existe uma divergência de comportamento e forma de exercer, que a gente chama de liturgia do cargo. Não tem como ser diferente. Essa liturgia tem que acontecer. Tanto ao prefeito, que tem que se comportar e se conduzir como a autoridade máxima do executivo municipal, responsável por um dos poderes, como o presidente da câmara. Talvez a câmara tenha ficado com uma imagem tão negativa ao longo dos anos, exatamente por essa promiscuidade de relacionamento entre câmara e prefeitura. A Câmara é a Casa do Povo, mas não pode existir baderna na Casa”, afirmou.
Após esclarecer a divergência que houve entre os poderes Executivo e Legislativo, José Antônio reafirma o seu apoio ao Tuca, se assim ele quiser, e ratifica que as mensagens do executivo que forem encaminhadas ao legislativo vão seguir rigorosamente o regimento interno e a Lei Orgânica do município. “Por diversas vezes eu falei para o prefeito que eu tinha um compromisso pessoal e intransferível com ele. O apoio do José Antônio continua com o Tuca. O governo Tuca tem o apoio do José Antônio, enquanto ele achar que isso deve ser feito. Se ele me convidar a ir ao gabinete dele e as agendas cruzarem, eu irei conversar com ele. Basta ser convidado”. E, advertiu. “As próximas mensagens do Executivo irão seguir a obediência irrestrita do regimento interno e da lei orgânica. Embora na última sessão, por sugestão da maioria dos vereadores, tivemos que quebrar o regimento interno. O prefeito não poderia ter falado, mas os vereadores foram unânimes em pedir, e a gente tem que ter o bom senso”.
O presidente da câmara ainda falou sobre o apoio do PCdoB e Câmara ao governo municipal. “Neste momento entendo, e a câmara como um todo também, que nós temos uma responsabilidade muito grande com Angra dos Reis. Nós estamos nesse vai e vem, nessa sanfona, onde sai o prefeito, o vice assume, coloca pessoas, estabelece um programa de governo e obras em execução, e aí o prefeito volta e refaz tudo isso. Nós não podemos ficar nessa sanfona. Nós não temos tempo, sob pena de a gente perder esse tempo de administração. E quando você perde um ano de administração, você perde claramente dez anos de desenvolvimento. Você coloca a cidade num fosso de pelo menos dez anos, e demora até você se reorganizar. E a câmara dos vereadores, PCdoB, a presidência da câmara tem esse compromisso nesse momento: de contribuir e dar um norte para a administração da cidade”, concluiu José Antônio.
Uso da tribuna
Na última sessão, o prefeito Tuca Jordão fez uso da tribuna na câmara para esclarecer o motivo de seu afastamento por 60 dias remunerados da prefeitura. Agradeceu aos familiares e amigos que o apoiaram na pior fase da vida dele; e assumiu que esteve doente de depressão, o que levou a se agredir. “Eu fiquei doente por acreditar no ser humano, investir no ser humano e me decepcionar com o ser humano. Isso gerou uma profunda depressão e eu me agredi. A Alessandra nunca iria me machucar. Ela só me dá amor e carinho. Eu me agredi e fui muito fragilizado com isso”, afirmou o prefeito. No entanto, ao assumir o motivo de seu afastamento, automaticamente ele desmentiu a nota oficial que a prefeitura divulgou no dia 13 de dezembro de 2011, dia do acidente, sobre a queda que ele teria sofrido no banheiro.
diario do vale

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